terça-feira, 17 de novembro de 2009

PORTAL CASEIRO PARA O INFERNO

Cuidado ao dormir com espelhos no seu quarto. O espelho nunca deve refletir quem está dormindo, mas isso não é nada perto da realidade. Ninguém pode imaginar o que tem do outro lado...

“No quarto, o espelho NUNCA deve refletir quem está dormindo.”, dizia a reportagem que ele estava lendo no tédio escuro e gelado do ônibus de volta pra casa. Desdenhou. Desdenhou como uma criança desdenha da outra, só porque acha que é melhor do eu o seu, mas não pode admitir isso.

As horas passam por ele como quem atravessa uma vidraça. E aquele pensamento o consumia por dentro: “(...) o espelho NUNCA deve refletir quem está dormindo.” – Meu Deus! Mas será porque isso? Parece até filme de terror, credo! – exclamou o assustado e desapontado rapaz, enquanto revirava seu medo em seu estômago.

A comida pela qual ele esperou a viagem inteira, ou quem sabe até o dia inteiro, já não tinha mais o mesmo gosto... nem o mesmo interesse pra ele.

Nem suas roupas tirou, acho que para não perturbar a paz de... do... melhor deixar isso tudo pra lá.

De repente, uma idéia o consumia: a de que o espelho seria SIM uma espécie portal para o mundo espiritual. – por que não seria assim? Pode ser. – conversava consigo mesmo o garoto, à espera talvez, de que alguma resposta lhe viesse de volta.

Nada!

Apenas silêncio!

O som das horas do relógio na cozinha o enlouquece, enquanto seu espírito entrava numa espécie de transe e passasse seu estado ao de um sonâmbulo, sonhando e vivendo tudo aquilo desesperadamente. Seu espírito se vê dormindo em sua própria cama e de seu corpo, fluía o seu espírito. Este o deixava como que se estivesse sendo forçado a entrar... mas logo em seguida, ele acordava. Sonhava acordado todos os segundos que se prolongaram diante de seus olhos.

Por fim, a hora derradeira: o sono!

Deitou-se meio que se forças mais para lutar contra seus pensamentos e ajeitou-se no lençóis. Fechou os olhos e respirou fundo. Como se fosse o último suspiro dentro de alguém.

Sonhou! Sonhou como nunca lembrava de ter sonhado e percebeu uma coisa: que na verdade, ele não “lembrava” mais seus sonhos, mas sim que estes o acompanhavam durante o pesado dia.

Percebeu também que na verdade, ele não era puxado por um portal, mas sim, que ele o buscava, ávido por encontrar lá dentro, um pouco de paz. O máximo que podiam fazer para ele era dar dicas de como ele, e somente ele, poderia resolver aqueles assuntos, e tentaram ficar lembrando de todos a ele. Daí sua rebeldia com seus pensamentos.

Tentou mais uma vez. Voltou a dormir... dessa vez, o sonho não foi muito agradável. Ele podia dizer isso tranquilamente, afinal de conta, ele estava ferido no braço. Trouxe essa lembrança com ele.

Aquilo o aterrorizou. Acordou em meio a gritos e decidiu que não dormiria mais naquele quarto enquanto o espelho não fosse retirado de lá durante o dia. Inútil!

Quando já não havia mais nada para ele fazer e se ocupar para esquecer, ele resolveu registra, de alguma forma, aquilo que estava acontecendo com ele. Para que servisse de exemplo para alguém no futuro.

E as horas quase param, num ecoar grave dentro de casa. Somente na minha cabeça.

Agora já não restam mais nem o bolo que jazia quieto na mesa da copa. Os cigarros já não são suficientes para fazê-lo suportar a espera pelo amanhecer. Se deixa levar pelo sono, inconscientemente.

Agora minhas aos escrevem essa história quase que mecanicamente... mal consigo manter meus olhos abertos... o espelho ganha um destaque na escuridão, um brilho estranho agora... e... e... eu... eu tenho que ir... tenho que ir...


Imagem: www.garimpandopoesia.blogspot.com

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