Em razão dessa série, iniciaremos com uma homenagem a um dos maiores poetas brasileiros, de muito amores e pavores, Castro Alves em um de seus momentos de pavor pessoal, compôs esse poema que segue...:
O Fantasma e a Canção
Orgulho! desce os olhos dos céus
sobre ti mesmo, e vê como os nomes
mais poderosos vão se refugiar numa
canção.
BYRON.
— Quem bate? —"A noite é sombrio!"
—Quem bate?—"É rijo o tufão!...
Não ouvis? a ventania
Ladra à lua como um cão.
" —Quem bate?—"O nome qu'importa?
Chamo me dor... abre a porta!
Chamo me frio... abre o lar!
Dá me pão... chamo me fome!
Necessidade é o meu nome!"
— Mendigo! podes passar!
"Mulher, se eu falar, prometes
A porta abrir me?"—Talvez.
—"Olha... Nas cãs deste velho
Verás fanados lauréis
Há no meu crânio enrugado
O fundo sulco traçado
Pela c'roa imperial.
Foragido, errante espectro,
Meu cajado —já foi cetro!
Meus trapos — manto real!"
—Senhor, minha casa é pobre...
Ide bater a um solar!
—"De lá venho... O Rei fantasma
Baniram do próprio lar.
Nas largas escadarias,
Nas vetustas galerias,
Os pajens e as cortesãs
Cantavam!... Reinava a orgia!...
Festa' Festa! E ninguém via
O Rei coberto de cãs!"
—Fantasmas! Aos grandes, que tombam,
É palácio o mausoléu!
—"Silêncio! De longe eu venho. . .
Também meu túmulo morreu.
O séc'lo—traça que medra
Nos livros feitos de pedra —
Rói o mármore, cruel.
O tempo—Atila terrível
Quebra cota pata invisível
Sarcófago e capitel.
"Desgraça então para o espectro,
Quer seja Homero ou Solon,
Se, medindo a treva imensa
Vai bater ao Panteon...
O motim —Nero profano—
No ventre da cova insano
Mergulha os dedos cruéis.
Da guerra nos paroxismos
Se abismam mesmo os abismos
E o morto morre outra vez!
'Então, nas sombras infindas,
S'esbarram em confusão
Os fantasmas sem abrigo
Nem no espaço, nem no chão...
As almas angustiadas,
Como águias desaninhadas,
Gemendo voam no ar.
E enchem de vagos lamentos
As vagas negras dos ventos,
Os ventos do negro mar!
"Bati a todas as portas
Nem uma só me acolheu!...
—"Entra!—: Uma voz argentina
Dentro do lar respondeu.
—"Entra, pois! Sombra exilada,
Entra! O verso—é uma pousada
Aos reis que perdidos vão.
A estrofe —é a púrpura extrema,
Último trono—é o poema!
Último asilo— a Canção!. . . "
domingo, 16 de maio de 2010
sábado, 1 de maio de 2010
Simetria das palavras
Tinha em uma das mãos uma xícara vazia e na outra um cigarro.
As horas no ponteiro passam como páginas vazias de um livro que não leio, e a solidão me abraça, sorrateiramente, e num balé simétrico, os olhos cerram, me convidando para mais uma dança entre mim e eu mesmo, no silêncio cabal que envolve aqueles que não têm outra opção a não ser ceder ao abraço do edredom.
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